A vida de Jean Rodrigo Simão

A vida de Jean Rodrigo Simão
Por: Dilmercio Daleffe


Jean Rodrigo Simão da Silva tinha uma vida inteira pela frente. Mas quis o destino que ela fosse interrompida aos “45 do primeiro tempo”. Morreu ainda jovem, vítima de um infarto fulminante. Sua trajetória no plano terreno não foi das mais fáceis. O “menino” de sorriso farto caiu às tentações da cocaína ainda novo. No começo tudo era diversão. Com o tempo, percebeu o buraco interminável que havia se metido. Tentou parar. Perdeu todas as batalhas. Mas, há quase dois meses, após a morte da mãe, Vera, conseguiu vencer. Estava determinado. Construiu sonhos, desenvolveu planos de uma nova vida. Mas não teve tempo suficiente para uma trajetória saudável.

“Rodriguinho”, assim chamado pelos amigos, morreu aos 45. Antes disso, viveu intensamente. De família tradicional, nasceu e viveu sempre em Campo Mourão. Teve uma vasta coleção de amigos. Era um sujeito de fácil trato, sem luxos, sem fricotes, sem frescuras. Estampava o sorrisão e ganhava até mesmo os mais sisudos. Conhecia a todos. Frequentava rodas diversas. Tinha trâmite entre “loucos”, moderados, empresários, playboys, gente simples ou ricos. Aprontou muito. Bebeu o que quis.

Gostava de rock. Mas não se importava em ouvir sertanejo, ou o “tuch tuch” do eletrônico. Falava muito em Deus e, quando alguém necessitava de ajuda, estendia a mão. Possivelmente, a maior característica de sua personalidade. Com o coração grande, o peito não o suportou.

Não é errado afirmar que existiram dois Rodrigos. O antes e o depois da morte da mãe. O de antes vivia a mil por hora. Montou uma pequena vidraçaria. Ao mesmo tempo gostava de fazer negócios. Vendia um carro aqui. Um terreno ali. Mas em meio a sua correria, lá estavam as carreiras. Elas movimentavam o corre corre.

Na vida amorosa, teve dois filhos, com duas mulheres. E a eles deveu-se à vontade em parar com o vício. À amigos confidenciou que desejava ser exemplo aos dois. Ainda em 2021, não suportando mais a rotina como usuário, fez um vídeo extremamente impactante. Nele, apanhou uma nota de U$ 1, fez três carreiras de cocaína e as cheirou em cinco segundos.

“Isso aqui não é brincadeira. Faz três dias que não durmo. É um inferno. Dinheiro jogado fora. Amigos perdidos. Eu falo à conhecidos que não brinquem com isso. É perigosíssimo. E começa nas festinhas. Começa na sexta, depois no sábado, na terça. E quando vê, não tem mais jeito. Depois só procurando ajuda mesmo. E é isso que eu tô fazendo agora. Procurando ajuda. Porque não estou mais dando conta. Esse é um desabafo pros meus amigos”, disse no vídeo.

Após o envio do material, Rodrigo se recolheu em uma clínica de Umuarama. A ideia era ficar seis meses. Ficou dois. Voltou a Campo Mourão, passando a ficar mais em casa. A um amigo disse que a meta era permanecer longe de bares, da noite. “A noite é quando os bichos têm vontade de uivar”, relatou. Em janeiro deste ano revelou a outro conhecido que estava se organizando, colocando a vida em ordem. “A luta sem o pó é diária. Tenho que ter um comportamento diferente. Me distanciar de pessoas e lugares”, disse ele.

Cerca de um mês antes de fazer o vídeo, Rodrigo se sentiu mal. Procurou o hospital e ali ficou. O diagnóstico indicava a necessidade de um cateterismo. Mesmo a contragosto, se submeteu ao procedimento. Ele odiava o ambiente hospitalar. Tanto é verdade que, após a operação, fugiu. Mesmo sem o aval do corpo clínico.

Rodrigo vinha sendo uma pessoa planejada. Se antes, deixava a canoa o levar, agora, era ele quem conduzia o próprio leme. Mas foi também neste ano em que tudo desabou. Em 4 de julho perdeu sua tia avó, Salua Simão, 86. Ela foi atropelada por uma moto no centro da cidade, não resistindo aos ferimentos. Não bastasse a notícia, menos de um mês depois, em 6 de agosto, perdeu a mãe, Vera Simão, por um infarto. “Rodriguinho” também teve um irmão, George, o “Polaco”. Mas um acidente de carro, no litoral do Paraná, o levou aos 21 anos de idade.

Antes de partir dessa, pra melhor, Rodrigo havia se desfeito da vidraçaria. Agora, atuava em uma garagem de veículos. E queria diversificar os negócios. Com terrenos em Piquirivaí, procurou um conhecido do ramo de eventos. Disse que desejava fazer lá, um local para casamentos. Mas os planos foram logo descartados, principalmente, devido ao local não possuir infraestrutura, como hotéis. Se a cabeça antes era a mil por hora com a química, agora, livre, mantinha uma mente extremamente saudável aos negócios. Sempre pensando nas duas criaturinhas mais importantes à sua vida: os filhos.

Com imóveis no distrito de Piquirivaí, Rodrigo passou muito tempo por ali. Aliás, não existe uma só pessoa na comunidade que não o conhecesse. Querendo melhorias ao local, se candidatou a vereador nas eleições de 2016 pelo PMDB. Teve 183 votos. Na época, há quem apostasse que não chegaria a 40 votos. Mas, como um não político de raiz, fez o que não podia. Levava a bandeira de um candidato a prefeito, embora pedisse voto a outro. Coisas de “Rodriguinho”.

Por volta das seis horas da manhã, de 30 de setembro de 2022, o menino de sorriso grande começou a passar mal no apê onde morava. Então, buscou o apartamento ao lado, do primo. Pediu um remédio à pressão. Tomou e se deitou ali mesmo, no sofá. O primo voltou a dormir no quarto. Quando acordou, percebeu que Rodrigo não mais respirava. Aos 45 anos, teve que encerrar todos os planos. O leme havia se quebrado. Não havia mais nada a se fazer.

Restam agora as lembranças, do “menino” que eternizava uma verdadeira amizade com os mais chegados. E ficam também as lições deixadas por ele, principalmente, quanto aos perigos de adentrar ao mundo escuro das drogas. E saudades. Como na cartinha escrita pelo filho mais novo, colocada sobre o corpo, no velório: “Pai, queria que você estivesse aqui comigo agora”. Rodrigo era como uma pipa em meio a um furacão. Julgamentos agora, não fazem mais sentido.





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