Flávia e Valentina, mãe e filha, lutaram juntas contra a morte. E venceram

Campo Mourão, novembro de 2024. Flávia ainda não sabia, mas estava grávida. Teve a confirmação num teste de farmácia, apenas aos cinco meses de gestação. Uma grande surpresa. Dias depois, com fortes dores, buscou ajuda médica. E acabou parando na Santa Casa. Então, em 22 de novembro, com 26 semanas de gravidez, deu à luz a Valentina. Como um milagre, a menina veio ao mundo com 23 centímetros, menor que uma régua escolar. E pesando 855 gramas, equivalente ao peso de uma fruta. Bastante prematura, precisou de cuidados extremos.
Os médicos não hesitaram e a levaram à Unidade de Terapia Intensiva (UTI) Neo Natal. Valentina estava muito vulnerável. Os cuidados eram redobrados. A bem da verdade, uma luta em favor da vida. Enquanto a criança ali permanecia, a mãe a visitava todos os dias, mesmo sem poder tocá-la. Veio o Natal, ano novo, janeiro, fevereiro, março. E a valente menina continuava a lutar. Foram horas, dias, meses de orações. Flávia sempre acreditou na reabilitação da filha. E a sua fé era tão grande que os joelhos doíam durante as intermináveis preces.
Então, no dia 30 de março, vendo os resultados de sua melhora, os médicos a tiraram da UTI e a colocaram na Unidade de Cuidados Intensivos (UCI). O milagre acontecia. E foi somente neste momento em que a mãe pode pegá-la no colo, pela primeira vez após mais de quatro meses do seu nascimento. Flávia estava bastante feliz. Irradiante com as boas novas de uma futura alta hospitalar.
Mas acontece que a vida é repleta de obstáculos, espinhos e provocações. Já no mês de abril, Flávia não se sentiu bem. Tinha falta de ar, tosse e febre. Buscou ajuda na UPA. E acabou transferida também à Santa Casa, mesmo local onde Valentina continuava internada. E as notícias não eram boas: ela tinha diagnóstico de pneumonia.
Em 20 de abril, já no hospital, Flávia de Jesus Ribeiro da Luz, 27, foi colocada na UTI. Com o quadro agravado, foi submetida a uma lobectomia – procedimento para remover uma parte do pulmão. A cirurgia foi concluída com sucesso. “Eu temia pelo pior. Fiquei com medo de morrer. Foram dias de muita angústia”, explicou. Juntas, mãe e filha permaneceram na Santa Casa no mesmo período. Cada uma em um setor, distantes cerca de 100 metros uma da outra.
A melhora da mãe aconteceu, também, como ela mesma enfatiza, como um milagre, deixando a ala apenas em 2 de maio. Mesmo dia em que, após 13 dias na UTI, conseguiu pegar a filha no colo, pela segunda vez. Agora, as duas estão bem. Unidas por um amor infinito, que só as mães conseguem entender.
Flávia é uma legítima brasileira. Daquelas que trabalham o dia todo pra pagar o rango de ontem. É diarista. Ganha pouco. Mas o suficiente pra não deixar faltar comida em casa, agora, aos seus dois filhos – ela já possuía um menino de 6. Conta que mora no Avelino Piacentini, onde divide uma casa com um irmão.
A mãe de Valentina diz que jamais teve ajuda dos pais dos dois filhos. Luta sozinha. E, por esse motivo deu à luz sem ter nenhum enxoval à menina.
“Quando ela chegou aqui não existiam roupinhas, fraldas, nada. Então fizemos uma campanha interna no hospital. E ganhamos muitas coisas, até mesmo uma bolsa para guardar tudo, já que as doações ficavam numa bacia”, explicou Solange Satsue Nakagawa Prado, gerente assistencial da Santa Casa. Segundo ela, o caso comoveu toda a equipe. Com as colaboradoras se revezando para lavar as roupas da menina. “Uma história bem triste. Mas com um final feliz”, afirmou.
“Não tenho como agradecer todo o carinho que a turma da Santa Casa deu para nós duas. Eles são anjos que nos apareceram”, disse Flávia. Ela deixou o hospital há uma semana. Valentina continua na Santa Casa. Deixou a UCI na última quinta e continua na ala pediátrica. Muito em breve, as duas seguirão a jornada da vida, de forma natural. Um dia Valentina entenderá tudo pelo que passou. E possivelmente, entenderá o que significa o verdadeiro amor de sua mãe. E há amor maior que esse? A vida segue.
SERVIÇO – Você pode ajudar Flávia e Valentina com doações. (44) 99762 - 0158
Melhora do quadro de Valentina se deve ao profissionalismo da equipe da Santa Casa
Médica residente da Santa Casa e uma das profissionais que cuidaram de Valentina, Suellen Fernandes de Azevedo, explica que, no caso da paciente, a prematuridade em si foi muito complexa. “Além do peso, os órgãos em si não estavam totalmente preparados ao nascimento. Quando ela nasceu precisou de ventilação mecânica para respirar. E pelas consequências da prematuridade passou bastante tempo dependendo de oxigênio. Necessitou de antibióticos, transfusões de sangue e nutrição parenteral”.
Para Suellen, não fosse um trabalho mútuo, de vários profissionais do hospital, os resultados poderiam ter sido diferentes. “Foi um trabalho em equipe de toda a UTI. Atuaram médicos, enfermeiros, técnicos, fisioterapeutas, nutricionistas. Equipe do Banco de Leite, assistentes sociais, psicólogos, além da coordenação. Enfim, essa história só foi possível porque todos trabalharam em conjunto, incansavelmente”, frisou ela.
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